por Mariana Guarilha
Eu tenho um fraco por distopias, entre meus livros favoritos estão duas distopias clássicas: 1984 e Admirável mundo novo. Também procuro sempre dar uma chance as novas distopias , livros que de alguma forma oferecem uma reflexão sobre questões sociais, ainda que não se aprofundem tanto ou não sejam tão competentes em oferecer paralelos para nossa sociedade.
Clássicos:
Admirável Mundo Novo (Aldous Huxley)
Clássico absoluto de Aldous Huxley, em Admirável Mundo Novo vemos uma jaula de cristal. Escrito em 1961, a história se passa em um futuro distópico onde os anos são contados em antes e depois de Ford, sim o Henry Ford que inventou as linhas de produção e em uma corruptela da expressão “Our Lord”(Nosso Senhor), lemos o tempo todo “our Ford” e algumas vezes “Our Freud”.Não existe mais a instituição da família, e a reprodução humana é toda realizada em laboratório, bem ao estilo das linhas de produção. De acordo com a casta do ser humano a ser gerado, será manipulada a sua genética. Além da manipulação genética, outra forma de controlar o povo é o SOMA, uma droga distribuída pelo governo que tem o poder de deixar a população feliz e satisfeita. Uma crítica certeira a sociedade de consumo e suas maneiras sutis de escravizar.
1984 (George Orwell)
Na Londres da distopia de Orwell, 1984 é o futuro (o livro foi lançado em 1948). Em uma sociedade autoritária, as pessoas são fortemente condicionadas pelo governo. Através da doutrinação e da vigilância da vida cotidiana, torna-se extremamente difícil questionar as ideias vigentes. É neste cenário que vive Winston, que graças ao seu trabalho tem uma visão privilegiada dessa sociedade. Winston é responsável por reescrever a história, adaptando a realidade ao gosto dos poderosos, e mesmo ele, dessa posição privilegiada tem dificuldades em ir contra as diretrizes que tanto restringem as liberdades individuais. 1984 é um tanto indigesto, com passagens agoniantes e seu protagonista não é lá muito carismático, mas vencidos esses obstáculos iniciais, é uma leitura apaixonante.
Fahrenheit 451 (Ray Bradbury)
Li esse clássico de Ray bradbury logo após terminar a leitura de Admirável Mundo Novo e de reler 1984, o que pode não ter sido o melhor momento por que as comparações foram inevitáveis e Farenheit saiu inevitavelmente perdendo. Guy Montag é um bombeiro, e a atribuição de um bombeiro nessa sociedade é originar incêndios, queimando livros, e é daí que vem o nome do livro, Farenheit 451 seria a exata temperatura em que o papel se incendeia. Os livros são considerados subversivos, e a única forma de lazer encorajada pela sociedade é um aparato tecnológico que emula interações inócuas. Montag está bem inserido nessa sociedade e não costuma questionar suas atribuições ao destruir livros. Tem uma bela casa, uma esposa, e sente-se confortável com sua vida. Ao contrário dos outros clássicos citados, Farenheit 451 não perde muito tempo nos explicando o funcionamento da sociedade, só sabemos o bastante para que a alegoria funcione. Talvez por essa simplicidade, e por conta da reflexão que propõe ser mais pontual, esse seja o livro ideal para que você que nunca leu uma distopia clássica comece a se aventurar.
Laranja Mecânica (Antonhy Burgess)
O livro de 1962 conta a história de Alex, um adolescente que junto com sua gangue, os “drugs” e amparado no consumo de Moloko (leite com drogas sintéticas) comete atos de ultraviolência, como ele auto-intitula.Após ser entregue as autoridades por seus colegas, a Alex é dado uma escolha: ele pode diminuir sua pena se submetendo a um tratamento experimental denominado “método ludovico” e em poucas sessões ser reintegrado a sociedade. O grande questionamento do livro é qual o limite ético para o estado ao lidar com a recondicionamento de um indivíduo aberrante e violento e o quanto de violência ele estaria disposto a utilizar para “reformar” tal indivíduo. Burgess não poupa o leitor, seja nas imagens que o livro trás, seja na complicada linguagem própria que falam seus personagens, misturando um discurso elisabetano ao chamado nadsat, que mistura russo a expressões da língua inglesa dos anos 60.
Novas distopias
Jogos Vorazes
Popularizada pelo cinema, a saga Jogos Vorazes conta com um grande apelo: a protagonista Katniss, uma guerreira astuta e de temperamento explosivo.Na narrativa pós- apocalítica de Jogos Vorazes, não existe mais os Estados Unidos da América, em seu lugar está Panem, unidade política que se organiza em distritos, e tem como sede de poder, uma metrópole tecnológica, chamada simplesmente de A Capital.Cada distrito é responsável pela produção ou extração de um recurso específico, e conforme sua expressividade são mais ou menos agraciados pela Capital.Para manter o controle sobre os 12 distritos, A capital organiza os Jogos Vorazes, um jogo de vida e morte televisionado, onde 2 crianças de cada distrito lutam pela sua sobrevivência. Katniss, a protagonista, vem do distrito mais pobre e está acostumada a uma vida dura, também pratica ilegalmente a caça, o que dá a ela alguma vantagem no jogo. A trilogia de Suzanne Collins parece ter diversas referências: do mito clássico de Teseu, indicado pela própria autora, que diz também ter tido a ideia para o primeiro livro enquanto zapeava a tv entre um “reality show” e a cobertura da Guerra do Iraque, o tom das duas coisas era tão parecido, que a autora se viu confundida. Muitas vezes Jogos Vorazes também é relacionado a Battle Royale, mangá do japonês Koushun Takami. Apesar das similaridades, Battle Royale é bem mais ousado no uso da violência, e sua narrativa típica dos mangás, faz com que as obras se afastem o suficiente.
A seleção
Eu comecei a ler A seleção em um espírito especifico, não levando a sério e não esperando nada de pertinente a respeito das críticas sociais, e talvez por isso, eu tenha conseguido me divertir muito.Em um reino fictício, onde a organização social parece um tanto feudal (apesar de contarem com tecnologia e um pouco de lógica capitalista), a população é mantida sob controle por uma esperança: a cada novo herdeiro do trono, uma de suas meninas, não importando a classe social, pode ser escolhida para a seleção e vir a se tornar a próxima rainha. As provas a que são submetidas essas meninas de diversas classes sociais, são transmitidas em uma espécie de “reality show” para todo o reino. América, que é inscrita no concurso por sua família após uma grande decepção amorosa, cai nas graças do príncipe, porém terá poderosos inimigos se quiser se tornar rainha.
Red Rising
Estou no momento lendo O Filho Dourado, segundo livro dessa trilogia que me pegou de surpresa. Entre as novas distopias é a que faz mais jus ao legado dos clássicos, emulando uma situação extrema a partir de relações de poder que podem ser verificadas em nossa sociedade. Conta a história de Darrow, um vermelho, a casta mais baixa em uma sociedade que preza a conquista espacial. A formação do autor, Pierce Brown, em ciência política parece ser a responsável por ele detalhar tanto o funcionamento da sociedade e acertar seus paralelos com o mundo real. Darrow, após uma tragédia sem precedentes em sua vida pessoal, é recrutado por um grupo rebelde e terá que estar ao lado daqueles que mais odeia para conseguir sua vingança. Resenhei o primeiro volume da trilogia(Fúria Vermelha) , que no Brasil é publicada pela Globo Livros, para o site Vortex Cultural.
Divergente
A trilogia de Veronica Roth prometia bastante em seu primeiro volume. O mundo de Divergente é interessante, e sua heroína Tris, que sai da Abnegação da vida familiar e ousa sonhar com uma vida na Astúcia tem um enorme apelo. Porém, abandonei o segundo livro Insurgente, a organização social no livro é confusa e perdemos tempo demais preocupados com o casal de amantes e quase não nos ligamos na grande ameaça a ser superada, tornou-se para mim o exemplo maior da história que cabia bem em um livro, mas que quiseram esticar para aproveitar a “moda” das trilogias. De qualquer forma, Divergente é bem divertido, e cabe bem como leitura despretensiosa.
Amo as distopias clássicas e minhas preferidas também são 1984 e Admirável mundo novo.
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